Como Assim Você não Bebe? - Por Léo Luz
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Dia desses eu estava em um lugar com outras cinco ou seis pessoas.
Alguém trouxe vinho, outro trouxe cerveja e começaram a encher os copos.
Perguntaram o que eu preferia, e eu disse que não preferia nada, porque
eu não bebia. E eis que:
Pessoa 1 – Como assim você não bebe?
Eu – É, não bebo
Pessoa 2 – Parou?
Eu – Não, nunca bebi.
Pessoa 1 – Nada, nada? Nunca bebeu nada?
Eu – Já provei quando era novo, mas não bebo.
Silêncio sepulcral.
Pessoa 3 – Não bebe nunca?
Eu – Não, nunca.
Pessoa 2 – Você fuma muito?
Eu – Eu não fumo
Pessoa 3 indignadissima – Mas maconha tu fuma, né?
Eu – Não
Pessoa 3 já impaciente – Cheira? Toma Rivotril?
Eu – Não, e não. De droga só bebo Fanta Uva e ultimamente tenho visto uns jogos do Fluminense.
Minha piada sensacional foi prontamente ignorada, e o interrogatório continuou:
Pessoa 1 – Mas como você consegue não beber?
Eu – Não bebendo. Não é tipo não respirar ou não comer, eu só não gosto.
Pessoa 2 rindo – Mas você faz o que então, se você não bebe?
Eu grosso e já meio de saco cheio – Não fico por aí enchendo a cara
pra me enturmar nem fumando baseadinho pra me sentir “da galera”. É isso
que eu faço.
E depois da minha grosseria, o papo acabou. O que eu achei uma pena
porque eu estava à beira do meu famosíssimo discurso anti-drogas. Na
verdade eu não sou panfletário contra as drogas, eu sou indiferente.
Quer fumar, fume, quer beber, beba, o problema não é meu. Mas não venha
encher o meu saco com isso, simples assim. E eu não bebo porque
realmente não gosto, assim como tem gente que não gosta de alface, tem
gente que não gosta de refrigerante, e tem até gente que – pasmem – não
gosta de mulher. E eu não fico questionando isso.
Quando eu encontro um gay eu não fico perguntando: “Nossa, como você
não gosta de mulher? Como você consegue não gostar de mulher?”, tampouco
interrogo os vegetarianos sobre “Meu Deus, o que você faz da vida se
você não come carne?”. Eu só quero que a minha preferência, que é não
beber, seja respeitada como eu respeito as outras preferências. E às
vezes tenho que ser grosseiro e dizer que não preciso de alguma coisa
pra alterar meu estado de consciência só pra “ficar mais legal” ou para “abrir a minha mente”.
E sem querer fazer papel de vítima nem nada disso, mas essa é uma
discussão que eu raramente vejo por aí. Falam que a sociedade oprime
mulheres, oprime gays, oprime crianças, mas e quanto a essa ditadura
velada das drogas? De deixar “de fora da turminha” quem não usa nenhuma
droga – lícita ou ilícita? O pior é ouvir esse papo de “uau, que absurdo
você não beber”, e ter que ser polido e não falar “Nossa, que absurdo
você ser um imbecil completo”. É difícil manter a educação. Geralmente
eu faço o papel de grosso anti-drogas que sai chamando todo mundo de
maconheiro e viciado. É a minha defesa contra essa babaquice de achar
que eu sou um completo idiota só porque não bebo.
Uma tática que eu usava e uso às vezes só pra deixar esses imbecis
culpados é dizer que eu sou ex-dependente químico e que meu pai é
alcoólatra e batia em mim quando criança, e mostro uma cicatriz que
tenho na sobrancelha dizendo que isso foi ele que me atirou um copo. A
conversa acaba na mesma hora. Mas eu queria, sinceramente, saber como é
que pessoas esclarecidas, que deveriam ser cultas e estudadas, engolem
com tanta facilidade essa baboseira de que drogas são legais e quem não
usa drogas ou não bebe não é legal. Quem define o que “não é legal”?
Não tô dizendo que não sejam, mas isso faz tanto sentido quanto dizer
que arroz é legal, ou que maizena é legal, e que se você não come arroz
ou maizena você é um idiota.
Autor: Léo Luz