Vício em jogos virtuais será classificado como "distúrbio psiquiátrico" em nova Classificação Internacional de Doenças
Organização Mundial da Saúde alerta para as implicações do vício em jogos virtuais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) poderá classificar no próximo ano o vício em jogos virtuais como distúrbio psiquiátrico. Esta atribuição surge após uma discussão sobre às suas implicações na saúde dos jogadores.
Esta proposta foi feita durante a revisão da Classificação Internacional de Doenças - a nomenclatura mundial para denominar doenças através de códigos usados para fins médicos e estatísticos.
Uma nova edição do manual da Classificação Internacional de Doenças, na sua 11.ª edição - CID-11 -, vai ser lançada no próximo ano e a versão provisória classifica este vício como um transtorno psiquiátrico. Atualmente encontra-se classificado no grupo de "outros transtornos de hábitos e impulsos".
A iniciativa de incluir este distúrbio na CID-11 surgiu no congresso mundial sobre o cérebro que decorreu em Porto Alegre (Brasil). Apesar de só no próximo ano poder ser classificado como distúrbio, desde 2014 médicos e investigadores já demonstraram sua preocupação com as implicações que esse vício pode trazer para a saúde.
Comentário:
Na prática, está sendo criada mais uma demanda de ordem psiquiátrica que sustentará, junto à outras, o discurso de adoecimento da herança biomédica na concepção de saúde mental. Essa classificação serve principalmente para movimentar a indústria da saúde, abrangendo o profissional especializado em dar - diagnósticos - e os fabricantes de medicamentos.
O "vício" ou "dependência" são termos imprecisos na concepção de saúde mental, mas utilizados para dar corpo a uma ideia de "doença" ou "transtorno" frequentemente dissociados de um contexto maior.
Na incapacidade de enxergar o transtorno no contexto do qual o sujeito faz parte, e tratá-lo a partir dessa perspectiva, os promotores da herança "clinicalista" da saúde mental optam por criar mais uma classificação que atribui ao sujeito a origem de um problema que, na verdade, não é só dele, mas principalmente do seu contexto. Todavia, como tratar o contexto é algo que não se enquadra nos métodos da clínica médica, resta atribuir ao sujeito o lugar da "doença", tornando-o "tratável".
Fonte: Diário de Notícias
Comentário: Will R. Filho